Na minha adolescência, fui insuportável, assim como todos os adolescentes. Para mim, já tinha bagagem de vida o suficiente para ser dono do meu nariz. Minha personalidade? Estava completamente formada, eu tinha minhas convicções, e elas eram para sempre! “Mãe, não é só uma fase!”. Tal qual a personagem Tati, interpretada pela fantástica atriz Heloísa Périssé, eu era o puro suco do clichê adolescente.
Como um bom menino LGBT no início da segunda década do século XXI, eu era completamente fascinado por Gossip Girl. Amante do drama, dos romances, da descoberta do sexo e, claro, da fortuna ostentada por aqueles “adolescentes” americanos. Mas, mesmo com meu cérebro juvenil da época, sabia que aquele tipo de drama cinematográfico jamais poderia ser replicado na minha realidade em uma cidade do interior paulista.
Era 2012. O Twitter imperava, assim como o MSN. Eu acordava cedíssimo para ir ao colégio e não tinha tempo para ligar o computador e acessar nenhuma dessas redes. Cheguei ao colégio e imediatamente percebi olhares tortos direcionados a mim. Achei estranhíssimo, mas segui a vida e fui para a aula, afinal, era ano de vestibular, e eu não tinha tempo a perder com intrigas.
Papo vai, papo vem, algumas amigas me contaram que havia surgido um perfil no Twitter chamado “gossipcoc” e que eu, fã declarado da série, era o principal suspeito de ser o dono dessa página. Imediatamente entrei no perfil, e as postagens eram de dar dó: apenas ameaças de que viriam novidades e revelações bombásticas sobre pessoas da escola. Algo de péssimo gosto que eu, amante de Gossip Girl, jamais faria – e, certamente, não tão mal feito como aquilo.
Ofendidíssimo, aguentei buchichos e acusações infundadas por uma semana. Quando percebi que não parariam e que todos tinham certeza de que eu era o culpado, resolvi criar o perfil “gossipcoc2”. Se queriam me acusar de algo, agora teriam motivos para isso. Contei todos os segredos que eu sabia: casos de professores com alunas, meninos que não transavam bem ou beijavam mal – enfim, uma baixaria sem fim. Depois de publicar tudo que eu sabia, fiz um último tweet, dizendo que aquele sim era o meu perfil, e mandei todo mundo ir à merda.
A partir daquele dia, adotei o nick “jogabostanageni” nas minhas redes, inspirado pela música Geni e o Zepelim, de Chico Buarque. Para mim, naquela época, eu tinha sofrido como a Geni sofreu – sem entender e sem me aprofundar tanto na análise da música. Porém, ao me deparar com a performance esplêndida da maravilhosa cantora Liniker no programa Amor e Sexo, onde ela interrompe o “joga pedra na Geni” com um firme “NÃO JOGA”, senti-me obrigado a mudar para “naojogabostanageni” e sigo com ele até então.
E é claro, hoje me arrependo de tudo o que fiz, mas, pelo menos, virou uma boa história para contar.